O espetáculo tem texto de Caio Fernando Abreu, músicas de Cazuza e volta a cena cultural baiana neste final de semana
Release*
Cenas que chocam, músicas de Cazuza, coreografias, referências literárias e uma atmosfera de tragédia futurista são alguns dos elementos que compõem o espetáculo Zona Contaminada, montagem da Arte Sintonia Companhia de Teatro.
O musical retrata um mundo devastado por uma grande peste que teria contaminado seus habitantes, exceto as irmãs Beth (Denise Correia) e Carmem (Lívia França). Elas passam a viver refugiadas para não serem encontradas pelo Poder Central, que é uma espécie de tirania invisível e controladora da vida dos habitantes - o que nos remete ao Grande Irmão, do livro 1984, de George Orwell.
Sua voz é Nostradamus Pereira (Gilson Garcia), personagem de aspecto grotesco e extravagante que faz intervenções inesperadas durante o espetáculo dando informes do Poder. A forma como Nostradamus atua parece fazer uma crítica metafórica ao sensacionalismo de alguns veículos de comunicação da atualidade e se revela como um dos elementos que dão bastante dinamismo à peça.
Em meio ao ambiente de catástrofe, reforçado por um cenário composto de pichações, TV’s quebradas, metais e caixões, desenvolvido por Hamilton Lima, Beth encontra um homem supostamente não contaminado, o Homem de Calmaritá (Leonardo Freitas), que lhe revela a existência de um lugar para além da zona contaminada. Símbolo de erotismo, força e virilidade, o Homem de Calmaritá protagoniza cenas que se destacam pela ousadia e capacidade de chocar o público, sem cair na vulgaridade.
Enquanto isso, Carmem se envolve com seu amigo imaginário, o Mister Nostálgio (Agamenon de Abreu), uma espécie de clown que, de forma lúdica, representa a personificação do que foi perdido com a grande contaminação, como romantismo, educação e amizade, e que a frágil personagem sente a falta. Mais uma vez um grande clássico da literatura internacional parece ter sido referência: Admirável Mundo Novo, livro de Aldous Huxley, que possui passagens onde alguns personagens passam a sentir falta de sentimentos que existiam em tempos remotos.
Mesmo sendo desenvolvida em um ambiente futurista, a peça consegue, por meio de suas metáforas, fazer contundentes críticas a perca de valores da sociedade em que vivemos hoje. Aspecto presente também na poesia das músicas de Cazuza, que são inseridas de forma intercalada com as cenas, interpretadas pelos atores, sob a direção musical de Paulinho de Oliveira, e aliadas às coreografias elaboradas por Sivaldo Tavares. À parte musical soma-se também a iluminação bem adequada por Elísio Lopes Jr. e os figurinos de Agamenon de Abreu e maquiagem dos atores feita por Roberto Lapllane, que renderam uma boa caracterização aos atores, ajudando a trazer o público para o mundo retratado pelo espetáculo.
Destaque – O espetáculo Zona Contaminada recebeu a indicação ao Prêmio Braskem de Teatro 2007 na categoria Melhor Atriz Coadjuvante para Lívia França e mais outras 5 indicações ao FIT – Festival Ipitanga de Teatro nas categorias melhor direção, espetáculo, atriz, cenografia e iluminação, recebendo o prêmio de Melhor Atriz para Lívia França e Melhor Iluminação para Elísio Lopes Jr.
SERVIÇO
Quando: 7 a 16 de outubro (Sexta, Sábado às 20h e Domingo 19h)
Onde: Theatro XVIII, Rua Frei Vicente, 18 – Pelourinho
Quanto: R$ 5,00
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